Descontentamento

Resolvi dar uma segunda chance ao mundo. Uma segunda chance para mim mesma. Não adiantou nada dar murros em ponta de faca a vida toda; queria mudar o sistema, as pessoas, o planeta. Repudiava a injustiça, a desonestidade e a falsidade dos seres humanos. Hoje, devo apenas tentar conviver com tudo isso na mais plena harmonia.

Conformismo? Talvez. Sei que no fundo de meu âmago não aceito nada disso, mas mesmo assim, tentarei enxergar tudo sob uma nova ótica.

Finjo o tempo todo ser algo que não sou. Meu estoque de máscaras é imenso. Ninguém pode ver o descontentamento que carrego no peito. Por isso resolvi entregar o meu pensamento ao convencimento de que as coisas são assim e ponto. Determinismo completo e absoluto. Quando vejo, sinto ou percebo as coisas, as pessoas, o rumo que a vida toma, fecho os olhos e digo a mim mesma: Tudo isso é assim e não importa o quanto eu me importo, não há perspectivas de mudança.

E assim, assumo toda a minha aparente indiferença perante um mundo caótico, cheio de barbáries, cheio de humanos insuportavelmente detestáveis.

Levar as coisas menos a sério. Esse é o segredo para espantar toda a ansiedade. Não olhar mais ao meu redor com olhos críticos - essa seria a solução para o meu sofrimento.

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