Para os que criticam o egoísmo...

Querido Carlos Drummond de Andrade, explique para as pessoas como algumas cabeças funcionam. Não sou poeta, mas você escreveu tão lindamente que jamais chegaria a seus pés com minhas prosas banais...



Confissão (Carlos Drummond de Andrade)
Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.
Dei sem dar e beijei sem beijo
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.
Do que restou, como compor um homem
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?
Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro - vinha azul e doido -
que se esfacelou na asa do avião.



Eu não escolho as minhas leituras, elas me escolhem... aliás, eu bebo dessas fontes, da mesma água com que sou composta. Desculpem-me aqueles que criticam, mas gosto é como bumbum, cada um tem o seu!


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