Olha o tempo lá fora! Ideal para um cinema, uma pipoca, um passeio no shopping.
Olha o tempo lá fora, um sol que convida a todos a passear nas ruas e nos parques imundos de São Paulo
Olha o dia lindo lá fora, é inverno, mas o sol brilha como na primavera, 26 graus e um convite para um sorvete e uma caminhada no Bosque Maia.
Que inferno! Olho pela minha janela e não tenho coragem de sair de casa, a menos que fosse uma obrigação. Lazer? não! Apenas os noturnos quando estou menos pessimista. Um pub com músicas góticas, com pessoas esdrúxulas, talvez com um espírito roto como o meu, ,talvez gentinhas da moda, não sei bem, pois em meus passeios noturnos fico só, olhando o movimento, ouvindo os sons ecoarem, mas nada de conversas, estou farta de conversas ocas.
Olha, eu tenho duas pernas, dois braços e dois olhos, e deveria estar feliz por isso, então, o que há de errado? Alma cancerosa, purulenta, necrosada. Apenas isto e nada mais. A morte anda ao meu lado a me espreitas, e essa velha nefasta não quer levar-me para o cemitério, não entendo porque me persegue dia e noite a me torturar! O que queres de mim, moribunda? Ladra de energia bioquímica que faz os cérebros do mundo funcionar? O que queres de mim? Não compreendo essa caçada, estou aqui, porque não me acertas? Porque Deus, aquele escroto cruel não deu o sinal verde ainda? Maldição! Ah, como queria que deus existisse, pois eu, pessoalmente iria olhá-lo com tamanho desprezo e desacato, e cuspir no meio de sua cara enorme. mas não, nem esse maldito prazer eu poderei ter um dia, então vou continuar atacando os vivos que insistem em pregar a palavra podre dos homens ocos...
Eu não escolhi nada disso. Não leio Augusto dos Anjos por escolha, leio por afinidade. Não odeio o sol apenas porque dizem por aí que ele envelhece a pele, mas odeio o sol porque ele brilha e dá luz e vida a tudo! E a vida é a minha pior inimiga. Não posso ver beleza nas árvores, nas flores e nos campos. Não posso ter prazer ao tomar um sorvete em dia de sol. Não quero sair de minha casa,. Mas não fui eu quem escolhi. não fui eu...
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