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- Depois me perguntam porque Machado de Assis é genial. Não respondo. Sempre pego um livro dele, abro em alguma página que marquei e leio. Um bom escritor transforma o impossível em realidade, trasforma absurdos em probabilidade e, mais especificamente, traz à tona a realidade de forma tão poetizada e tão enfeitada de palavras e sons e ritmos, de metáforas e comparações que percebemos o óbvio ludibriados. veja a seguir um trechinho da filosofia de Quincas Borba:
- Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de
duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas,
rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é
princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da
guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas
apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças
para transpor a montanha e e ir à outra vertente, onde há batatas em
abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo,
não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz
nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos
extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os
hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das
ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não
chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o
que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma
pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou
compaixão; ao vencedor, as batatas.
- - Mas a opinião do exterminado?
- - Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a
mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se
e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são
essas bolhas transitórias.
- — Quincas Borba
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