Tudo que gostaria de dizer, mas ainda não tive a oportunidade.



Este texto que posto aqui não se trata de indireta vazia. É um texto bem direcionado, só não há menção de nomes completos porque não acho que eu deva correr o risco de ter meu post derrubado. Isso é um desabafo de anos que sofri por acreditar que eu estava errada em não ser como as outras pessoas. Amargurada? Ressentida? Não, apenas raiva de mim mesma de não ter percebido tudo antes. Mas esse dia finalmente chegou.

Como todos sumiram e não me deram direito de resposta, então resolvi publicar aqui.

Autoexposição desnecessária? Não, escrever, para mim, é ressignificar esses sentimentos que me atravessaram. Escrever é colocar um ponto final. Aqui vai:

Vocês nunca me quiseram por perto. Tentaram de tudo para me afastar. Mas eu decepcionei todos vocês: eu nunca desisti.

Aguentei muito tempo tentando ser aceita, mas nunca quis abrir mão da minha personalidade. Vocês tentaram forçar a barra. E eu, que tenho sérios problemas para interpretar as ações das pessoas, demorei muito para perceber esse asco que vocês têm de mim.

Minha mãe dizia sempre que o problema era eu: que sou geniosa, inflexível, cabeça dura, que falo sem filtros... e eu realmente acreditei que o problema tivesse sido meu o tempo todo. Apesar disso, nunca me distanciei do meu verdadeiro ser.

Eu vivia um conflito interno, porque me diziam sempre que o ser humano é um ser social, que pessoas precisam viver com pessoas. Eu via todo mundo com família, com amigos... Sempre pareciam estar felizes, e que havia harmonia entre todos. Ledo engano!

Eu tive de cursar cinco anos de Psicologia e mais uns bons anos em pós-graduações para entender o mínimo do ser humano. Mas nada fazia sentido. E eu, apesar de gostar de ser quem sou, ainda imaginava que continuava errada.

Então veio o diagnóstico da minha filha. E eu desconfiei que talvez eu tivesse o mesmo diagnóstico. E tive.

Depois disso, eu finalmente me senti livre e feliz como nunca estive antes: o problema nunca foi eu. O problema é que forçar a minha natureza era como nadar numa correnteza contrária.

Estou aprendendo agora a me acolher, a me aceitar, a acreditar que eu não tinha um problema — o problema era apenas aquele conflito entre me escolher ou escolher ser sociável. Eu me escolhi. E torno-me, a cada dia, mais quem eu sou.

Mas vocês nunca me aceitaram. Sempre quiseram dizer como eu devia ser, como eu devia me comportar, como eu devia, devia, devia... Era uma chuva de gaslighting o tempo todo.

Até que um belo dia resolvi pedir um favor — e vocês acharam qualquer pretexto para me afastar de vez. A minha sorte é que, ao invés de me sentir rejeitada, eu me senti livre.

Não vou mais precisar frequentar lugares onde não caibo, participar de festas de pessoas que me odeiam mas querem impressionar, não vou mais ficar sabendo o que falavam de mim por trás, como vocês projetaram suas próprias misérias em mim. Hein?

Até meu filho vocês acusaram de roubo — e eu só vim saber disso depois de muito tempo. Isso foi baixo demais. Mas mesmo assim, continuei ouvindo o gaslighting de que eu era radical demais e que deveria ser mais flexível.

Apesar do grande nó na garganta, acreditei que eu estava errada em ter raiva de algo tão “banal”... Agora imaginem se eu acusasse um filho de vocês? O que fariam comigo? Me apedrejariam? Me queimariam viva?

Enfim, fiz vistas grossas — e de tão grossas, elas quase me cegaram. Ainda assim, eu tentei. Mas até no grupo do WhatsApp havia um lugar especial para falarem de mim. Obrigada por nunca me esquecerem: sou realmente especial e inesquecível.

Aí veio a menina… minha mãe já não podia me ajudar com ela como me ajudou com o mais velho. Afinal, 20 anos se passaram entre um e outro. Eu estava desnorteada, despersonalizada — mas o meu companheiro foi um verdadeiro homem e me carregou no colo até que as coisas melhorassem.

Eu melhorei. Aos poucos, mas melhorei. Melhorei tanto que até tive vontade de melhorar minha aparência. Fui a uma dentista que acabou com o meu rosto.

Eu, já fraca por ser sensível demais, caí numa depressão reativa e tive amnésia dissociativa. Fiquei com pontos abertos no meu rosto, que pareciam nunca cicatrizar. Não tive uma infecção local ou generalizada por muita sorte.

Enfim, sofri tanto que tive dores terríveis no corpo. Acabei fazendo exames para ver se havia alguma disfunção no meu organismo, mas tudo estava dentro do esperado: fui diagnosticada com fibromialgia.

Foi nesse período em que minha filha ficou doente. E vocês — mais uma vez — se meteram onde eu nunca deveria ter deixado. No calor da emoção, nos fizeram aderir a um plano de saúde que vocês escolheram, um plano que não oferece vagas para as especialidades que a criança precisa.

O caso dela não é simples. Não se resolve com pesar, tirar sangue e colher urina para avaliar. Ela tem uma complexidade que vocês jamais terão capacidade de entender, muito menos de manejar.

Passei meses da minha vida nas piores condições humanas possíveis — e vocês não me acolheram. Não demonstraram nenhuma empatia. Era julgamento atrás de julgamento, tratamento brutal para uma pessoa com um problema tão sério.

Até “bem feito” vocês diziam, enquanto eu tentava recolher os cacos do que havia me tornado.

Finalmente, a cicatriz fechou. Não tive sequelas, por sorte — apesar de saber da torcida de vocês para que eu tivesse sido destruída. Decepcionei vocês de novo.

E tudo isso acontecendo enquanto eu seguia sem nenhuma rede de apoio. Enfim, resolvi colocar a menina na escola — a menina que vocês tratam como se fosse uma bastarda. A menina que nasceu de mim, do melhor lugar possível, para ser cuidada, amada e tratada em sua singularidade.

O que vocês fariam se não tivessem abortado na mesma época em que engravidei, e tivessem hoje uma criança com uma mente tão complexa quanto a da minha menina querida e amada? Tem gente aí que sempre fez questão de ignorar a criança — por raiva ou por inveja de não poder sentir esse amor tão grande que ela me faz sentir.

Infelizmente, ainda acreditando na tal rede de apoio, algumas vezes pedi que vocês a olhassem. Mas o tratamento diferencial era gritante. Um era levado para cortar o cabelo, era levado à terapia, à fono, a passeios incríveis. Ela, por sua vez, era mantida em casa e imitava tudo que ensinavam pra ela...

Uma criança mais velha, extremamente mal-educada como nunca havia visto antes — uma criança que fala gritando e não tem limites, porque é considerada o reizinho da casa. E a minha filha inocente estava ficando igual: fazendo muita birra, não tendo paciência para esperar, desorganizada e mal-educada com apenas 3 anos.

Eu, apesar de não estar mais nesse antro de pessoas incultas, vis, torpes, analfabetos funcionais que estudaram em boas escolas e não tiveram a capacidade de entrar para uma universidade pública — como aquela pessoa que vocês tanto depreciaram conseguiu — imagino o tanto de veneno de inveja que escorria pelas bocas sujas de vocês. Inveja da minha inteligência e inveja por eu ter sido mãe depois dos 40 anos. Inveja por ser amada incondicionalmente por meus queridos, que convivem comigo e gostam de quem eu sou.

Indignadas com todas essas coisas que raríssimas pessoas têm, e que vocês também não tiveram o mesmo privilégio.

Vocês educam muito mal os seus filhos, não dão limites, fingem que não veem o péssimo comportamento deles. Sabem que essa criança faz bullying na escola — e não estão nem aí. Afinal, quem sofre são os filhos dos outros mesmo.

Empatia, compaixão e misericórdia só aparecem no léxico vazio de vocês nas orações pedindo graças a si mesmos — e que se danem os outros.

Acham mesmo que vou deixar uma criança linda e inocente nesse covil imoral? Para vê-la repetindo comportamentos de má conduta na minha casa? Reproduzindo a falta de educação, de decoro e de respeito ao próximo?

Eu cansei de tentar tolerar esse tipo de coisa — e tenho certeza de que jamais me arrependerei de ter afastado quem amo de um lar com valores tão deturpados, com gente fútil e materialista que julga o próximo de acordo com o que ele ostenta. Vocês gostam de carro para impressionar os outros. Vocês dão festas para ostentar o que querem parecer ser — tipo celebridade.

Vocês são reféns da ignorância e da falta completa de senso crítico. Minha filha merece estar em um lugar muito acima dessa pocilga cheia de bibelôs. E é isso que, no fundo, todos queriam: extirpar a parte da família de vocês que foi "contaminada" por minha influência.

Sorte a de vocês. Sigam no caminho da mediocridade.

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